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OLIVENZA: TRADUÇÃO DE CARLOS LUNA//REVISTA ITALIANA "LIMES",...

TRADUÇÃO DE CARLOS LUNA//REVISTA ITALIANA "LIMES", 22-Novembro-2010 (TRADUÇÃO)
OLIVENZA OU OLIVENÇA?
O DESTINO DE UMA LETRA
Por Roberta Sciamplicotti
(Roberta Sciamplicotti <robertasciamplicotti@tiscali. it>)
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No ano de 1801 a Espanha conquistou a cidade portuguesa (de Olivença) e a região
circundante. Portugal obtém a sua restituição no Congresso de Viena, mas os 453 Km. 2 em
disputa continuam espanhóis até hoje. Uma disputa geopolítica que volta a fazer soar
antigas rivalidades ibéricas.
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1. Pode a redescoberta das antigas raízes culturais contribuir para resolver um
contencioso geopolítico secular, ou, inversamente, arrisca-se a agudizá-lo? Um bom caso
de estudo sobre tal tipo de problema é Olivença, cidade que pertence a Espanha mas que é
reivindicada por Portugal, do qual Olivença - uma simples letra de diferença que encerra
todo um mundo - fez parte até ao início do século XIX.
Desde há cerca de dois anos (em 2008), um grupo de cidadãos oliventinos promoveu a
criação do "Além Guadiana"[1], uma associação sem fins lucrativos que procura promover a
cultura portuguesa na zona em disputa. A organização não se pronuncia sobre a questão da
soberania - como declarou Manuel Sénchez, um dos fundadores, "pela nossa sobrevivência,
devemos permanecer neutrais"[2] - mas lança propostas para recuperar (na proclamada
"cidade das duas culturas") a herança lusitana, incentivando a língua portuguesa e
propondo a sua adopção nas escolas, difundindo "menus" bilingues nos restaurantes e
organizando festivais culturais como "Lusofonias", mostra dedicada ao mundo português e
cuja primeira edição se realizou no passado dia 12 de Junho (2010). Particularmente
importante foi a iniciativa apresentada pela Associação em Maio no sentido de serem
adicionados ao nome espanhol das ruas de Olivença o antigo nome português, proposta
aprovada pela Câmara e aplicada até agora em 73 ruas e praças.
"Reivindicamos o aspecto mais importante: a cultura", afirmou o Presidente da
Associação, Joaquin Fuentes Becerra [3]. "Temos um Património monumental herdado dos
portugueses bem conservado, mas uma grande parte da cultura imaterial, sobretudo a
língua, está a desaparecer". "Não podemos ter duas culturas se uma destas não se pode
exprimir através das palavras. Devemos a Portugal a maior parte do que somos".

2. A cidade de Olivença torna-se portuguesa pela primeira vez em 1297, na sequência do
Tratado de Alcañices acordado entre o Rei D. Dinis de Portugal e o soberano castelhano
Fernando IV. No ano de 1337, durante a luta entre Portugal e
Castela, é ocupada por esta última, para voltar a ser portuguesa em 1389 (NOTA: HÁ AQUI
UM ERRO! Olivença foi ocupada entre 1337 e 1339, voltando a Portugal. Em 1383, como
outras praças, tomou o partido castelhano. FIM DA NOTA). Apesar de
numerosos ataques sofridos no decorrer dos séculos, e cidade verga-se a um assalto
espanhol em 1657. Mas em 1668 é restituída a Portugal [4].
Em 20 de Maio de 1801 Olivença é conquistada pelo exército espanhol na Guerra de
apenas duas semanas conhecida como "das Laranjas", por causa de alguns ramos de
laranjeira colhidos na região portuguesa de Elvas e enviados pelo Primeiro Ministro
espanhol Manuel Godoy aos soberanos de Espanha para provar os seus sucessos. Com o Tratado
de Badajoz (6 de Junho de 1801), Olivença torna-se espanhola; o preâmbulo e o Artigo IV
do texto previam todavia a anulação do acordo no caso de infracção da paz, eventualidade
que se verificou quando a Espanha, conjuntamente com a França e a coberto de um acordo
secreto, invade Portugal em 17 de Novembro de 1807.
Em 1814, a Paris, os estados vitoriosos nas guerras napoleónicas aceitaram considerar
nulos os tratados assinados sob pressão francesa, citando explicitamente o Tratado de
Badajoz. No ano seguinte, no parágrafo 105 [5] do Tratado elaborado no Congresso de Viena,
as potências europeias deram o seu aval às reivindicações portuguesas sobre Olivença e o
seu território. Não obstante a Espanha ter assinado o Tratado dois anos mais tarde, o
território oliventino - actualmente composto de Olivença, Táliga, São Francisco de
Olivença, São Rafael de Olivença, Vila Real, São Domingos de Gusmão, São Bento da
Contenda e São Jorge de Alor - continua a fazer parte da província espanhola da
Extremadura.
A língua lusitana, proibida em 1840 mesmo nas igrejas, já não se fala muito, mas
"muitos dos anciãos que jogam às cartas no "Hogar del Pensionista" discutem e soltam
exclamações, invectivas, num português perfeito"[6], e há muitos portugueses que vão
trabalhar para Olivença, sobretudo no sector da restauração e das construções; do ponto
de vista arquitectónico, por outro lado, a cidade proclama a herança lusitana em todos os
seus ângulos, a começar pela típica calçada formada por pequenas pedras brancas e negras
dispostas de modo a formar desenhos. Confirma-se, desta forma, a peculiaridade da cidade
de quase 11 000 habitantes, celebrada também em adágios famosos como aquele que recorda
que "as raparigas de Olivença não são como as outras, /porque são filhas de Espanha e
netas de Portugal. / Têm a doce beleza da mulher lusitana/ e a graça e o "brio" das
mulheres de Espanha"[7].

(CONTINUA)